Cartas pra você.

São Paulo, 20 de Junho de 2013.

Querido,
arranjei um tempo para escrever-lhe devotamente. Guardo dezenas cartas que nunca enviei, na esperança de algum dia receber uma sua. Espero por ela diariamente. Meu coração dispara no momento em que vejo a correspondência chegar e como de costume, o seu nome não é o remetente. Por meio desta, exponho meu coração sem remorso e dessa vez o faço por inteiro.
Lembrar do que já não possui, é como cavar a própria cova e certificar-se de que esteja fundo o suficiente para não conseguir voltar. E eu ainda me lembro dos seus olhos acesos como faróis. Do seu cheiro estampado no meu travesseiro logo pela manhã. Dos discos espalhados pela sala. Do jeans velho. Da sua barba e da preguiça de fazê-la. Do quanto agrada o roçar dela na minha pele. Das palavras amargas cravadas no meu peito. Das vezes que te mandei embora e das outras que insisti pra ficar. Dos carinhos violentos. Do seu jeito e das formas estranhas de demonstrar amor.
As coisas têm sido difíceis, vivemos em tempos difíceis, senão perdidos. Não sei onde nos perdemos, mas me procuro todos os dias dentro de ti. Você ainda vive em mim, impregnado. Vez ou outra, pra não dizer sempre, seu rosto invade meus dias. Essa dor só cessa quando adormeço, derrotada pela tentativa de odiá-lo e mais uma vez falhar. Gostaria que esse envelope suportasse a saudade que deixou, não sou mais apta a sustentá-la. Não sei se algum dia fui, mas de certo lhe enviaria um milhão de cartas. Entupiria sua caixa de correio, talvez assim lembraria de mim. Espero que aceite devolução e quando receber, faça o que bem entender. É sua, inteiramente sua.


Com amor...
Ninguém.

(Texto escrito por Ingrid Sodré) 

Um comentário:

  1. Adorei seu blog. Está iniciando agora no mundo blogueiro, não é?
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