Passageiro.

Não costumava utilizar muito o transporte público, sempre tive sorte de ter tudo que preciso por perto, mas todas as raras vezes que o utilizava, sentia estranhamente feliz quando pisava no metrô. A felicidade dobrava quando o vagão estava quase deserto.
Até hoje, gosto de me sentar ao lado da janela e, como qualquer outra pessoa, por razões óbvias. Entretanto, quando se trata de um vagão subterrâneo não faz diferença onde me sento. Não existe vista, mas um vulto negro. Quando percebo que não tenho nada, é quando enxergo o que existe ao meu redor. Fisicamente não estou sozinha, então guardo um pouco minhas angústias na bolsa e imagino como seria estar na vida de outro passageiro, ir para outro lugar. Há dias em que não desejo outra coisa a não ser viver a vida de outra pessoa; sentir de forma diferente; olhar para o mundo com outros olhos e encarar o amor com um novo coração. Talvez a dor não seria tão aguda, talvez a vida não seria tão agridoce e talvez tudo seria passageiro.



(Texto escrito por Ingrid Sodré)

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