Luto

Algumas pessoas se afastam para que outras se aproximem. A despedida doí, o luto parece não ter fim, mas aos poucos a mente e o coração se moldam ao vazio. Pessoas vão cruzar nossos caminhos e lentamente as feridas se curam, embora as cicatrizes permaneçam ali, marcadas na pele como tatuagem. Haverá dias em que se esquecerá delas, estará mais ocupada distribuindo sorrisos ou aberta a novas possibilidades; em outros, parecerá que as feridas nunca foram cicatrizadas. Elas estão ali, pode senti-las se tocar, mas a dor passa a ser opcional.

Esconderijos


Devagar, eu guardo
Todos os seus retalhos
Em esconderijos que
Só eu posso ver.



(Texto escrito por Ingrid Sodré)

Pouco a pouco, construímos um castelo



Ele veio sem pedir licença, sem bater na porta, da maneira mais hostil que se pode entrar.
Eu poderia ter reagido, não gosto que entrem sem permissão, mas nada fiz. De alguma forma, soube que deveria permiti-lo entrar. 

Ele se abaixou ao meu lado e os dois permaneceram no chão, recolhendo os pedaços, como se a dor agora fosse compartilhada. Eu tentei entender o que nos fazia permanecer ali, juntos, mas depois me dei conta que era apenas pra ser. Depois de mais invasões, eu já o esperava. Me peguei sorrindo, sem motivos, sentada no banco do ônibus, indo pelo caminho mais longo para poder sonhar mais um pouco. Eu pude enxergar o quanto a vida pode ser bonita mesmo morando numa cidade caótica, mesmo do lado de dentro de um ônibus.
E quando ele não vem, o coração dispara com qualquer barulho. Eu tento odiá-lo por me fazer esperar, mas então me distraio e ele chega, roubando o meu ódio com quase nenhuma palavra. Não é mais hostil, é quase educado.
Não há mais o que recolher, já estamos reconstruídos. Somos nós, que não podem ser desfeitos. Se um dia o mundo nos separar a força, ainda teremos um ao outro.
Sempre.
Aqui dentro.


(Texto escrito por Ingrid Sodré)